Memórias dos dias tristes

Eu gosto das pessoas que têm sonhos e sempre me arrisco a questioná-los. Questiono-me constantemente sobre as naturezas das coisas que cultivamos e, sobretudo, das tristezas que enfrentamos. Em alguns momentos, deparar-se com uma dezena de obstáculos é tão cansativo quanto simplesmente enfrentá-los.

Entenda um ponto sobre você:

Sua história corresponde aos caminhos que você trilhou. Pois bem, isto lhe parece claro. Mas por que então custamos a compreender a tristeza? Se está em nosso caminho, certamente corresponde aos vários trilhos que percorremos ou nos quais fomos inseridos. Remorar um caminho, então, é torna-lo a cada dia mais claro a fim de conjugar os sentidos das suas condições. Recordo friamente dos dias mais conflituosos que marcaram dia após dia o emaranhado de experiências que vão se acumulando até este ponto da minha história – e da sua também. Recuperar as memórias dos dias tristes é como enxergar a si mesmo com uma lente renovada, sabendo identificar – ou buscando fazê-lo – os custos e ganhos do sentir e do sentir-se. Embora haja em nosso hábito o esforço de esquecê-los, os dias tristes, cabe a nós tratarmos com responsabilidade sobre as miudezas destas trapassas que o caminho nos dá.

Digo, então, que é falso procurar a todo custo uma felicidade idealista…

Que é falso acreditar que a vida é composta substancialmente pelo bem-estar irrestrito e atemporal; já nos parece um clichê dizer o seguinte: a vida é feita de quedas e recuos também, contudo nos parece – e é – doloroso costurar os tecidos depois que eles rasgam pelas mãos mais duras.

Recordo, então, que aprender é puramente caçar os mistérios que não conhecemos, e os dias tristes nos trazem mistérios, à tona, dos quais o conteúdo jamais imaginamos. E seria deste conteúdo nunca antes imaginado que surgem as esperanças mais doces? Talvez. Mas das memórias dos dias tristes surgem as certezas de que, dia após dia, os cotidianos caminharão a fim de nos levar ao mais profundo conhecimento sobre o mundo e sobre nossas condições internas e externas, até mesmo as materiais. Sem que haja caminhar, o caminho será sempre duro e desconhecido; sem que haja memória dos dias tristes, qualquer dia será uma imensidão irreal na qual os desafios assumirão uma breve cor ultrapassada.

 

 

(Este é um texto de um dos colaboradores. Os comentários, opiniões e colocações são de inteira responsabilidade do autor. Não necessariamente refletem a opinião deste blog)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Voltar ao Topo